terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Mercedes roubado em Carreço adquirido com nova matrícula

Um Mercedes E 220 CDI foi roubado em Carreço, Viana do Castelo, e adquirido, com nova matrícula, por uma firma. Dois anos depois, o carro foi interveniente num acidente e passou a “salvado” e vendido várias vezes. A judiciária investigou e agora estão acusados dois empresários. Uma das testemunhas do caso, taxista, explicou aos juízes como é que chegou a ser dono de um Ferrari.

O Ministério Público acusa os dois empresários que estão a ser julgados na Vara Mista da prática crimes de falsificação de documentos e burla qualificada, por terem vendido aquele Mercedes à testemunha que depôs na última audiência de julgamento. Os dois agiram com o propósito de criar um automóvel com uma nova aparência, de forma a enganar a fiscalização do Estado e dos particulares que o adquirissem.

O último a adquirir o Mercedes é um taxista que um acidente o atirou para uma cadeira de rodas. Na última quarta-feira, o depoimento de António Araújo perante o colectivo presidido pela juíza Luísa Alvoeiro e a procuradora do Ministério Público (MP) Ângela Neto ocupou quase o dia todo. Contradições e críticas à Polícia Judiciária por, alegadamente, esta lhe ter feito assinar dois depoimentos que ele diz não lido por “confiar nas pessoas”, tornaram-no no controverso e por vezes hilariante homem do dia.

A testemunha disse que comprou esse Mercedes porque “só queria” aquele modelo de 2002. Aliás, ele tivera um Ferrari que lhe custara 50 000 euros. Vendeu-o depois a um vizinho seu que está na Inglaterra. Também já fora proprietário de quatro Mercedes. O Ferrari foi apreendido em circunstâncias não explicadas neste julgamento.

No negócio da compra do E 220 a um dos dos dois arguidos, conta ter apontado uma pistola à cabeça de quem lho vendeu para conseguir obter os respectivos documentos.
De facto, a história dessa aquisição, após reparação do veículo, é longa e cheia de discrepâncias, nomeadamente no que se refere ao preço que por ele pagou, com verbas que não batem certo com os referidos pela Polícia Judiciária. Mas Araújo, na sua explanação corrida, teve uma justificação soberba: a Judiciária não sabe fazer contas!

De partida anunciada para o Brasil, Araújo explicou neste julgamento as razões que lhe permitiam a posse de tanto dinheiro: para além de taxista, tinha umas leiras e negociava em gado nas feiras, negócio em que chegou a investir 10.000 contos no tempo dos escudos. “Não sou tolinho” - ripostou ele à uma das observações da presidente da colectivo.

José M., de 33 anos, e Mário M., de 36 anos, ambos profissionais ligados ao ramo automóvel, são os arguidos deste caso: o primeiro é dono de uma sucata e o segundo tem uma oficina de reparação e é negociante em viaturas no distrito de Braga.